quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Continuamos andando em sucata? tire suas conclusões

(21-07-09) - Com a série de reportagens “Lá fora”, mostramos que carros fabricados no Brasil podem custar mais barato em outros países do que aqui. A diferença de preço pode chegar a 60% menos, caso da Chevrolet Montana, vendida no Brasil a R$ 45.086 e, no México, por algo em torno de R$ 20 mil. Quando se buscam explicações, as montadoras culpam o governo pela alta carga tributária, que é, de fato, uma das mais altas do mundo. Confrontado, o governo diz que são as empresas que exageram na ganância. Sem ter a quem culpar, o consumidor é, como sempre, a grande vítima dessa história toda. Mas, afinal de contas, quem seria o vilão? Em conversas com especialistas, podemos dizer que são também as margens de lucros das empresas envolvidas na comercialização de veículos. Isso inclui não apenas as montadoras, mas suas concessionárias.

“A questão dos impostos, no Brasil, é complicada. Se compararmos a carga tributária brasileira com a de países desenvolvidos, ficaremos com a liderança nesse quesito. O ponto é que o Brasil não é como um país desenvolvido, que tem uma estrutura muito mais complexa a manter. Seria como comparar um time de primeira divisão com um de segunda. Descontado esse erro, o Brasil não tem, como outros países, uma carga tributária para automóveis. Ele tem uma para modelos com motor até 1 litro, uma para carros com motores de 1 litro a 2 litros e por aí afora. São vários níveis diferentes de cobrança de impostos. Isso dificulta as comparações, mas não as impossibilita”, disse ao
WebMotors Evaldo Alves, professor de economia internacional da Fundação Getúlio Vargas.

Para nos ajudar a ter uma ideia a respeito de quanto imposto se cobra sobre os carros fora do Brasil, Alves citou três países. “Nos EUA, a carga de impostos sobre automóveis fica em 6,1%. No Japão, bate em 9,1%, enquanto na Alemanha esse índice atinge 13%.” Achou altos? Espere até ver os níveis brasileiros... “Para carros com motor até 1 litro, a carga era de 27,1% antes de os 7% de IPI serem descontados para estimular o consumo. Nos veículos com motores de 1 litro a 2 litros, a carga chega a 30,4%, enquanto os veículos com propulsores acima de 2 litros chegam a 36,4%.”

Essas cargas são nestes valores porque os impostos brasileiros são cobrados de uma maneira considerada errada no mundo todo: em cascata. Em outras palavras, eles não são cobrados sobre o preço base do veículo, mas sobre o preço mais a incidência de algum imposto, o que gera uma espécie de “cobrança sobre a cobrança”.

Desmembrando estes índices, temos que PIS-Cofins arrecada 11,6%, que o ICMS tem uma alíquota de 12% e que o IPI é o grande responsável pela diferença nas cargas tributárias. Ele era de 7% para modelos 1-litro, 13% para os 1-litro a 2-litros e 25% para veículos com motores acima de 2 litros. E é aí que a conta não bate.
Carga tributária

Aplique, por exemplo, 30,4% ao preço da Chevrolet Tornado, a Montada mexicana. Ela custa, em uma versão equivalente à Sport, no Brasil, algo em torno de R$ 20 mil por lá, como já dissemos. Vale lembrar que, no México, ela também é vendida com impostos e com lucro, mas usemos este preço como se fosse o de seu custo de produção (que é menor). Se seu preço final tivesse 30,4% a mais de impostos incluídos, ela custaria R$ 28.735,63. Isso dá R$ 16.350,37 a menos do que os R$ 45.086 cobrados pelo mesmo carro no Brasil.

Como usar apenas um modelo da Chevrolet seria injusto, aplicamos o mesmo exemplo para Fiat Idea Adventure, VW CrossFox e Ford Fiesta Sedan. No México, eles têm preço respectivamente equivalente a R$ 26,7 mil, R$ 27 mil e R$ 18 mil. Se fosse aplicada a eles a mesma carga de 30,4% de impostos, seus preços subiriam, também respectivamente, para R$ 37.931,03, R$ 38.793,10 e R$ 25.862,07.

A Fiat Idea Adventure, no Brasil, custa, com o mesmo nível de equipamentos da versão vendida no México, R$ 51,43 mil. A diferença deste valor para o do veículo vendido no país “hermano” com carga tributária semelhante à nossa (R$ 37.931,03) é de R$ 13.498,97.

No caso do VW CrossFox, o brasileiro paga R$ 17.356,90 a mais do que um mexicano que tivesse de arcar com a mesma carga tributária que temos hoje. O preço do carro no Brasil é de R$ 56,15 mil. No México, com 30,4% de impostos, seria de R$ 38.793,10.

O Ford Fiesta Sedan, vendido no México só com motor 1,6-litro, sairia, com impostos brasileiros, R$ 9.922,93 mais barato do que o carro equivalente vendido no Brasil. Aqui, ele custa R$ 35.785. Lá, ele custaria R$ 25.862,07 com nossa carga tributária de 30,4%.

Mesmo que aplicássemos a carga tributária mais alta praticada para carros no Brasil, a de modelos com motor acima de 2-litros, de 36,4%, ainda sairíamos perdendo. A Chevrolet Montana seria R$ 13.553,46 mais barata (R$ 31.446,54). A Fiat Idea Adventure, R$ 8.033,77 (R$ 43.396,23). O VW CrossFox, R$13.697,17 (R$ 42.452,83). Por fim, o Ford Fiesta Sedan seria R$ 7.483,12 mais barato (R$ 28.301,88).
Quem explica?

E aí, leitor, para onde vai esse dinheiro que você paga a mais por um carro? “O governo é quem mais onera os preços dos carros, mas há outros custos que entram na conta, como transporte, distribuição, revenda etc. Sobre eles eu não tenho conhecimento suficiente”, disse Alves.

Com relação aos custos de transporte, por mais altos que eles sejam, não devem ser mais caros do que colocar o veículo em um caminhão, desembarcá-lo em um porto, levá-lo a outro país, transportá-lo de novo com um caminhão e deixá-lo nas concessionárias de lá. Não faria sentido. Com isso, o custo a mais só pode ser creditado aos lucros das empresas envolvidas na venda do automóvel no Brasil. Mais especificamente concessionárias e fabricantes.

Isso foi confirmado em conversas informais com executivos que, por razões óbvias, preferiram não se identificar. Segundo eles, as margens de lucros dos concessionários brasileiros são consideradas altíssimas em outros países, quatro vezes mais altas que a de seus colegas de além-mar.

Além dos concessionários, há também os fabricantes instalados no Brasil, que, de acordo com uma coluna do jornalista Joel Leite, têm margens de lucro três vezes maiores no Brasil do que em outros lugares.

Tentamos falar com Chevrolet, Fiat, Volkswagen e Ford, mas nenhuma das empresas nos enviou uma explicação para as diferenças de preço até o fechamento desta reportagem. Essa é a vantagem da internet: podemos atualizar esse texto quando as empresas nos mandarem suas explicações. Continuaremos esperando, ainda que sempre possa vir uma resposta dizendo que esses são dados estratégicos das fabricantes. Pode ser... O espaço, de todo modo, está aberto.
Discussão

Mais do que encontrar vilões para os preços altos no Brasil, o
WebMotors quis suscitar a discussão em torno de algo fundamental: por que os preços dos automóveis são tão altos por aqui? Culpar o governo ou as empresas seria apenas a solução fácil, a que infelizmente se costuma adotar para não tomar nenhuma providência a respeito dos problemas.

Em nossas conversas para escrever essa reportagem, chegamos a uma outra conclusão: no Brasil, temos noções de preço muito distorcidas. Uma das razões foi o longo período de inflação que enfrentamos. Com ele, perdemos a ideia de quanto um automóvel deveria custar, assim como pagávamos por uma linha telefônica quase o valor de um carro e, hoje, simplesmente contratamos o serviço.

O preço médio de uma casa nos EUA em 2008 era de US$ 292,6 mil, segundo o US Census Bureau, o IBGE deles. Isso daria R$ 557.695,60 pelo câmbio de hoje. O carro mais barato à venda por lá, o Hyundai Accent GS, custa US$ 10.665, ou R$ 20.327,49, também pela cotação atual. No Brasil, o carro mais barato à venda é o Fiat Mille, que sai por R$ 21,96 mil. Na falta de uma estimativa oficial de valor médio de imóveis no Brasil, consideremos um valor de R$ 300 mil (correndo o risco de ser mais baixo que isso). A proporção entre o que custa um carro nos EUA em relação ao preço de uma residência comparada com a mesma proporção no Brasil mostra como essa noção distorcida de valor nos afeta.

O que resolveria a situação, por aqui? Uma redução da carga tributária seria bem-vinda, mas também a redução de margens de lucro. Um esforço em conjunto para colocar o país em um caminho de crescimento. “É pouco inteligente ter essas políticas de preços para bens duráveis. Automóveis, como todo bem durável, quando têm seus preços reduzidos, têm aumento de consumo percentualmente maior do que a redução”, disse Alves. Em outras palavras, com preços mais baixos, seriam vendidos mais carros, o governo arrecadaria mais e as montadoras ganhariam com volumes maiores.

Pode ser que nenhuma das empresas instaladas hoje no Brasil tome a atitude de quebrar esse paradigma de preço, de reduzi-lo, mas há muitas por chegar, como as chinesas (tomemos a Chery como referência) e a indiana Tata. Só esperamos que elas, podendo vender carros por preços também altos, prefiram mexer no mercado de uma forma mais profunda, conquistando o consumidor e deixando-o com uma cara melhor do que a que estampa essa reportagem. 
FONTE                                                                                                                        

http://www.webmotors.com.br/wmpublicador/Mercado_Conteudo.vxlpub?hnid=42603

VEJA TAMBÉM:

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