quinta-feira, 31 de março de 2011

O BC entre o galo bom e o galo ruim

O BC atual lembra a história do galo bom e do galo ruim. O sujeito vai apostar em uma briga de galo. Pergunta quem é o galo bom. Indicam. Aposta e o galo bom leva uma surra. Quando vai cobrar explicações, o caboclo ensina:
- Aquele galo é bom, incapaz de ferir outro galo. Galo ruim é aquele outro, que quase matou o bom.
A decisão de se conformar com uma inflação acima do centro da meta (mas dentro da margem de variação) é correta, mesmo dentro dos princípios do sistema de “metas inflacionárias”.
Por ele, define-se a meta de inflação e, depois, uma margem para cima ou para baixo, para acomodar choques de oferta. No quadro atual, houve choque de oferta com a explosão internacional dos preços dos alimentos, com as chuvas do início de ano que afetaram os hortifrutigranjeiros e com aumentos de ônibus em São Paulo.
Se decidisse fechar o ano calendário no centro da meta, o BC teria que derrubar o crescimento do PIB para 3 pontos ou pouco mais.
Portanto foi uma decisão respeitando a própria racionalidade do sistema.
Agora, o BC erra em relação ao câmbio. A todo momento ele saca o revólver e o mercado cospe em cima.
Ontem, o mercado deitou e rolou no câmbio, definindo sem nenhuma dificuldade a próxima PTAX (a cotação mensal do dólar, que serve de base para a remuneração de títulos públicos cambiais). Parecia que o BC sequer existia e sequer estivesse anunciando medidas para conter a queda do dólar.
Nessa mudança de paradigmas que caracteriza a ação dos BCs (não apenas aqui, mas no mundo) mais cedo ou mais tarde terá que voltar a atuar no mercado.
No início dos anos 90, com reservas cambiais de pouco mais de US$ 1 bilhão, o BC segurou a explosão do dólar atuando no mercado.
Ele é um jogador preferencial por excelência. Conhece a posição de todas as instituições financeiras, pode alterar as regras do jogo.  Mesmo com pouco caixa, conseguir infligir perdas aos especuladores mais atrevidos, moderando sua atuação. Era o mesmo princípio do “saco de maldades” de Gustavo Franco.
Ontem, uma fonte da Fazenda dizia que nos últimos seis meses o real foi a moeda de menor volatilidade no mundo – com o dólar oscilando sempre entre R$ 1,67 e R$ 1,70.
Ora, reduzir a volatilidade é ótimo quando o equilíbrio é autossustentável, garante as contas externas. Com o câmbio apreciado, com juros internacionais em níveis baixíssimos, a queda da volatilidade simplesmente aumentou a segurança dos tomadores para continuar buscando dólares no exterior. E o especulador para poder brincar à vontade com o valor do dólar, na hora de definir a PTAX.
Nem a própria Fazenda esconde que a meta é manter o dólar nesse patamar 1,67/1,70, para evitar impactos sobre a inflação. Dado o teto do dólar e o diferencial entre as taxas internacionais e as internas de juros, o IOF não desestimulará a entrada de dólares.
Ocorre que o presidente do Banco Central Alexandre Tombini está sob tiroteio cerrado do mercado. O fato de não ter nenhum diretor egresso do mercado dificulta ainda mais a conversa com os economistas de mercado. E o fato de ser galo bonzinho em nada ajuda a restaurar a credibilidade do BC.
Mais cedo ou mais tarde, o BC vai ter que colocar o galo ruim na rinha.

FONTE
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-bc-entre-o-galo-bom-e-o-galo-ruim

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