Enviado por luisnassif, qua, 16/02/2011 - 09:59
Coluna Econômica
O economista Armando Castelar tem um papel manjado no mercado. Sua
função é a mensageiro que passa pelas ruas das vilas medievais gritando
"fogo", para manter a população permanentemente de sobreaviso.
Não se trata de um exercício banal de terrorismo. Ao espalhar temores
infundados sobre situação fiscal, inflação e outros bichos, visa criar
um clima para aumento de juros e para cortes em investimento e
programas sociais. Por maldade? Não. Mas quanto maior o corte fiscal,
maior será o espaço para aumentar os juros. Ou seja, há uma lógica nessa
histeria.
Foi o que ocorreu ontem em entrevista ao Estado de S. Paulo,
valendo-se da forma extremamente acrítica com que parte da imprensa
recebe análises superficiais.
***
O primeiro terrorismo é em relação aos rumos da inflação.
Dos 5,94 do IPCA de 2010, 2,3 pontos se deveram ao grupo alimentos e
bebidas, fortemente influenciado pela explosão das cotações
internacionais.
Inflação é variação de preços – não meramente
preços altos ou baixos. Se determinado preço está em 100 e passa para
120, por exemplo, a alta é de 20%. Se, num segundo momento, vai para
130, o preço estará mais alto, mas a inflação desse produto será de 8,3%
sobre o período anterior.
Para manter a mesma inflação, os preços teriam que saltar para 144, depois para 173, em um crescimento insustentável.
Justamente por isso, em mercado não indexado (como é o de
commodities) depois de um salto especulativo há acomodamento, pela
simples razão de que a repetição do movimento despregaria completamente o
preço financeiro do seu componente real – o mercado físico.
Essa aceleração dos preços de alimentos se deu no segundo semestre.
Agora, há sinais de acomodamento de preços em vários setores, ou com
preços andando de lado ou com variação menor do que no período anterior.
***
Em relação ao aquecimento da economia, os próprios dados da Pesquisa
Mensal do Comércio (PMC) do IBGE – divulgados ontem – mostram acomodação
no setor que mais cresceu nos últimos anos: as vendas no varejo,
comprovando que as medidas prudenciais e creditícias do ano passado
estão surtindo efeito.
No acumulado de 2010, o crescimento foi de 10,9% - porque em cima da
queda do ano anterior. Já em dezembro, descontada a sazonalidade, as
vendas mantiveram-se estáveis – zero de crescimento.
***
Mesmo com tais dados, Castelar se esmerou em traçar um quadro
assustador, duvidando do corte de R$ 50 bi – sem apresentar um dado
sequer para corroborar sua desconfiança. Cortes de R$ 50 bi não são um
ato banal que se esconde debaixo do tapete. Nem é necessário anúncio do
detalhamento, basta conferir ministros esperneando contra os cortes.
***
Aonde se quer chegar com esse tipo de terrorismo? Corte nos programas
sociais? O país chegou a um estágio de mudanças sociais em que não se
aceita mais falta de oportunidade para as classes de menor renda. Corte
nos investimentos? A economia demanda mais e mais investimentos em
infra-estrutura.
Pretender ampliar cortes ou aumentar juros significa condenar o país a um crescimento pífio.
FONTE
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-terrorismo-dos-inflacionistas
Nenhum comentário:
Postar um comentário